Martha era uma menina doce e meiga. Tinha um sorriso claro e sincero. Um jeito moleca de ser, de andar e de falar. Sua postura encantava e atraía. Filha de empresários-sempre-ocupados, Martha cresceu e criou-se no metro quadrado mais caro de Belém. Gozava de todo o conforto que o dinheiro podia oferecer-lhe.
Seu corpo seduzia em suas formas e odores. Porém, parecia ainda não ter completado o desenvolvimento esperado ao final da puberdade: os seios ainda não brotaram por completo. Fonte de inquietação. Não entendia, afinal, já se encontrava no fim de seus 16 anos de idade. Apesar de todo o exposto, Martha destacava-se por algo ainda não descrito e que dinheiro nenhum no mundo garantiria: chupava um pau como ninguém.
A questão era que o tédio dominava a rotina de Martha. Seus pais, por estarem sempre ausentes, calculavam minuciosamente seu cotidiano. Além do colégio, frequentava aulas de inglês, natação, kumon, ballet e reforço. Não havia tempo para nenhum tipo de contato humano. Crescera com a terrível impressão de que era tida como um produto: instigava investimento, ao invés de atenção, afeto e carinho. Sentia-se cinza, murcha. Carente de vida.
Foi exatamente o ato sexual que transformou sua vida. A primeira vez que sentiu cores ao seu redor e experienciou algo de novo na vida fora com seu primo Jonas. Extasiou-se ao presenciar, acidentalmente, o pau de Jonas crescendo, erguendo e explodindo em vida. A ereção era fonte de inveja: aquele pedaço de carne murcho e feio tornava-se tão forte, tão vivo. Tão inspirador. Tão belo.
Martha queria ser um pênis. Precisava ter para si toda aquela fonte de vida e juventude. Em um ato de desespero, subitamente agarrou seu primo e, ainda sem saber muito bem o que fazer, ingeriu o objeto mágico. Jurava ter ouvido os barulhos das ondas e o cantar dos pássaros. O encontro glande-goela produziu lágrimas. Lágrimas de esperança.
Sábia como sempre fora, Martha logo percebeu que não precisava aprender mais nada para subir na vida e fugir de encrencas. Carregava a fórmula mágica na ponta da língua: uma boa chupeta e pronto. As tormentas cessavam e o céu ardia. Tudo resolvido. Nota baixa em sociologia? Liquidação de Melissa no shopping? Flagrada pelos homens da lei distribuindo chupetas por dinheiro? Moleza. A vida não era dura.
Seus pais notavam, mas não entendiam tamanha mudança. Havia um misto de orgulho e dúvida. Ela estava mais bela, mais segura, mais confiante. Mais compreensiva e madura. Não demorou em tornar-se, também, mais desafiadora e confrontadora: desistiu das aulinhas de inglês, de reforço e do kumon. Viveria em função de seu desejo e em eterna negociação com o desejo de seus pais. Logo seus seios brotaram.
Martha dividia as opiniões por suas colegas de classe. Algumas a criminalizavam enquanto outras a idolatravam. Oito ou oitenta: era puta ou rainha de paus. Distribuía dicas para as colegas quanto ao assunto.
- Pra início de conversa é preciso não ter nojo. Os homens percebem quando você não tá muito afim. Ignore possíveis odores cotidianos, afinal, buceta não é a coisa mais cheirosa do mundo e você não verá seu namorado reclamando em chupá-la. Porém, alguns cuidados devem ser tomados. Lembre-se que dentes sempre serão mais duros que qualquer pica neste mundo. Eles mascaram a sensação de prazer e podem provocar dor.
- E o saco? O que devo fazer? – alguém da multidão sempre perguntava.
- Chupe o pacote inteiro. Mas, cuidado para não chupar com muita força... É importante que vocês lembrem sempre de fazer toda essa chupação acompanhada de elogios constantes. Minta! Fale sobre o tamanho do pau de seu acompanhante, do quanto é gostoso chupá-lo e o quanto seria gratificante chupá-lo o dia inteiro...
- Ohhh! – clamavam.
Martha, agora, era tida como a líder de sua turma. Deixara de ser aquela garota estranha com algumas espinhas indesejáveis. Podia perceber o reflexo de seu brilho nos corredores quando passava. Jorrava alegria por onde passava. Martha era um pau bonito e ereto, sempre.
Em uma dessas muitas caminhadas ao paraíso do outro, Martha apaixonou-se. O pau dele era lindo: tinha uma tonalidade rosada, todas as veias nos lugares e tamanhos certos e o design que completava o estádio de futebol que sua boca se tornara. Nem era assim tão grande e não importava. A grossura, para ela, era o que importava. A grossura e o seu jeito de ser.
Martha e seu namorado viveram felizes para sempre. Afinal, não haviam problemas que não pudessem ser solucionados. Um pouco de vontade e de saliva eram suficientes.