A vontade bateu e me retirei. Sentia aquilo me invadindo, gerando ansiedade. Sentia que não daria conta de segurar e corri. Era maior que eu. Procurei um banheiro e entrei.
Quando a gente entra no banheiro para evacuar dá-se início um processo de fiscalização: é preciso ter certeza que as pessoas não ouvirão os possíveis sons durante o ato. A gente fica com vergonha.
Entrei na cabine e sentei.
Pelo chão procurava sombra de possíveis intrusos nas cabines vizinhas.
Controlava o fluxo para não chamar a atenção.
Foi quando eu percebi o quanto isso é absurdo. Todo mundo faz isso. É natural. Aquele é o lugar para fazer esse tipo de coisa. É uma coisa tão simples, uma conclusão tão lógica. Pra que sentir-se reprimido? Deixar rolar seria tão mais fácil. Tão mais saudável. Sofreríamos menos. A dor seria menor. Seria mais justo, diria.
Fiquei sentado esperando passar. Demorou.
Demorou pra perceber que não eram fezes, eram lágrimas.
Um comentário:
Curti. Lágrimas: o que não deveria ser vergonha.
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