Os corpos se contorcem.
O frio dá a pegada do toque, ensinando as mãos aonde repousarem. O edredom esconde o tesão e a necessidade do outro. Apenas o peso da respiração indica o que se passa: ela, escorregadia em seus lábios mais íntimos, responde a cada toque com gemidos tímidos; ele, sedento de sacanagem, belisca, machuca e provoca com o dente as pontas daqueles seios.
E que seios. Eis o único argumento válido para a existência de um deus: os seios dela. Claros como urina depois de uma noite de bebedeira. Mordíveis como chupeta de criança faminta e saudosa dos pais. Cheiro-de-pele descansada e familiar. Aqui, dona Melanie Klein, sua teoria é parcialmente recusada.
Deves concordar, prezado leitor, que incorreríamos em contradição ao pensar na existência de um deus sem pensar na coexistência de um oposto, um inverso. Um diabo. Temos dois lados na mesma moeda. Passemos para a obra deste.
É a língua que denuncia que ele chega perto. A pele cada vez mais macia, o aumento da temperatura e o espetar dos pelos. Sim, pelos. Ele gosta de sua mulher caseira. Aquela que não sente necessidade de fechar a porta do banheiro quando caga e de estar sempre depilada. Ele ama a liberdade da intimidade deles. Isso é muito mais que sexo.
E é com a língua que ele percorre todo o caminho. Caminho que, com o passar do tempo, vai se tornando mais rápido, mais curto. Mais intenso. Aproveita cada segundo da maciez de sua intimidade. O tesão escorre de seu sexo. A mistura de saliva e lubrificação vaginal entorpece os dois.
Percorre toda a região sem limites, sem vergonha. Explora cada centímetro com aquela voracidade carinhosa até encontrá-lo. Lá está, implorando por atenção. Ele procura com suas mãos machucar as pernas dela. Avisa, com a pressão que exerce sobre o seu corpo, para que ela permaneça aberta. E continua o percurso.
O clima tenso norteia a intensidade da sucção: não há como diminuir o ritmo.
Pressiona o clitóris contra o céu da boca e massageia-o com a língua.
Mergulha de boca.
Observa, de canto de olho, a reação dela.
Ela puxa o lençol com as mãos.
As coxas machucam o rosto dele.
Os pés se contorcem.
E o gemido final traz a mensagem:
Muito obrigado.