Li um artigo e não aguentei.
Pelos arrepiados, estômago embrulhado. Lágrimas dançantes no meu rosto.
Senti um frio pela espinha. Cenas de terror fizeram-se presente em meu corpo: sentia o odor da pele queimada pelos choques elétricos que eram dispensados no corpo dela. Ela, que por três meses e meio resistiu bravamente em um porão da ditadura civil-militar, fez-se em mim por sua dor, por sua escrita.
Senti o cheiro de sangue, de angústia. Ouvi os berros de seu companheiro. A falta dos que morreram, dos que sumiram. Quis acreditar tratar-se de artigo fictício, fato literário, licença poética, estética. Quis, ainda, acreditar que tudo isso sumira, que tratar-se-ia apenas de mais um triste episódio da história sangrenta da "ciladania" brasileira.
A tortura quer calar o incômodo, o intempestivo: quer controlar a potência criativa e contestadora dos inquietos, dos não-dóceis. Minuciosamente calculada e planejada, a tortura rompe o tempo linear, circunscrevendo o corpo em um jogo de forças para além do porão, da prisão. Reatualiza-se em práticas sutis, silenciosas, legitimadas pelos desdobramentos subjetivos dos subversivos, dos drogados, dos desajustados psiquicamente. Os cientificamente violentos, perigosos.
Pensar na atualidade da escrita de Cecília Coimbra é torturador.
Gritar: eis a questão.