Ela me olhava, me encarava. Na imensidão daquele olhar havia algo intrigante, inquietante. Algo que atraía. Que marcava o rosto, a pele, o corpo. O cheiro. Tentava disfarçar: sorria, vestia, escondia. Em vão. Deu pra perceber, tava na cara: era dor.
Identifiquei e me identifiquei.
O coração já gritava por descanso. Cansado de descaso. Sedento de calor. Esquecido no quintal, pegando chuva e sol. Desbotado. Porém, não estava só. Dormia chorando sob um manto de medo: amigo inseparável.
Chamei para entrar. Olhava pelas brechas do portão quebrado: o desconhecido. A vontade. O desejo. O medo. A promessa. O quarto escuro. A coragem. O conflito. A briga interna. O desejo. O medo. O desejo. O medo. O desejo. O medo. A coragem. A entrada. O primeiro passo.
A loucura.
A quebra do padrão. A entrega. A reconstrução. A possibilidade de autoconhecimento. A vontade de se entregar. Suicidar-se: investir afeto em outro objeto. Entregar vida. Tirar de si. Ter de volta. O lucro. O retorno. O amor.
O medo.
Eis quem retorna, quem resiste. Quem tenta afastar. Quem quer continuar sobrevivendo, apenas. Quem luta por ser como era: inerte. Zumbi.
A coragem. As lágrimas.
O quarto escuro ganha luz, calor e vida. Mostra-se confortável. Vivível. Aconchegante. Como as gotas de água que respingam na janela num dia de chuva. Um dormir abraçado. Saudável como o cheiro da sinceridade, da saudade.
A coragem. A felicidade. A eternidade.
O pra sempre que nem sempre acaba.