O céu era fonte de inveja.
Botara o plano mais suicida em ação: pular. Não olhar para baixo. Não pensar no chão. Não figurar a queda. Vendar os olhos, prender o ar e mergulhar. Restava-lhe aguardar pelo colo dela e seu perfume. O abraço apertado, o conforto do beijo. O calor dos sonhos. Mas, deu merda. Espatifou-se. Espedaçou-se. Enrijeceu-se. E não chorou.
O céu provocava inveja.
Não fazia sentido. Que absurdo! Aonde, afinal, falhara? - questionava-se sádica, masoquista e ironicamente. Deveria ser culpa dele. Lógico. Afinal, amor e ódio, quando no cú da gente, é difícil de aceitar. Ela era intocável. Talvez, em suas fantasias mais íntimas, nem defecar pudesse.
E o céu trovoando inveja.
Estava difícil. A cerveja, amarga, quase desistira dele. A racionalização ocupava a quarta cadeira da mesa do bar. E estava gorda. Gorda e chata! Era quase impossível combatê-la: silenciava o sorriso característico, restringia os olhares e não tolerava lágrimas. Mas, a coragem falou mais alto. Levantou-se, enxergou-se e apoderou-se de si. Eis o ato mais corajoso: desfazer-se em lágrimas.
Era um choro engasgado, recheado de soluços. Tão corajoso que não se preocupou em controlar-se. Parecia não ter fim. A quarta companheira pagou sua parte na conta e retirou-se. E de repente o céu passou despercebido.
E a cerveja deixou de ser amarga.
Um comentário:
Lágrimas... Essa maldita água represada deixa de ser tão malévola quando a gente simplesmente solta. Muito bonito o texto, amigo!
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