Gente passando, correndo. Gente agitada, inquieta e atrasada. Fones de ouvido, celular e algodão doce. Churrasquinho de gato, farinha d'água, limão e pimenta. Muita gente que nem a gente.
Cachorro pirento deitado no sol quente, roçando a pele no chão pra lá e pra cá. Cara de alívio que cativa a gente.
Cheiro de mijo e cachaça. Marcas de sangue duras nas paredes. Gente passando e ignorando a gente. Gente que nem olha pra gente. Gente que olha e puxa a bolsa pra frente. Aperta o passo e corre rasteiro!
Gente que tosse, espirra e que caga que nem a gente! Gente que ama, que goza e que ri talvez até um pouco menos que a gente. Gente que sofre, que chora e que sente. Sente?
Gente que bate na gente. Essa gente fardada, roupa esverdeada, com arma até o dente. Carregam a marca do Estado que era pra ser da gente! Pontapé, soco e cassetete no corpo da gente. Arranca sangue e segue em frente.
Gente que vê isso tudo que acontece com a gente e não faz nada. Chega em casa cansado, com o quarto arrumado e dorme contente. Gente doente. Gente que deixa o silêncio marcar o corpo da gente. Gente indiferente.
Gente que mente;
Gente que mata a gente;
Gente menos gente que a gente!