Quase não acordei. O despertador cansou de gritar e desistiu de mim. Mais um. Acho que o grande tesão em encher a cara é mandar o superego tomar no cú. A gente assume uma postura sádica, olhando, gozando, enquanto ele dilui etilicamente. A sensação de liberdade é muito boa, apaixonante. E como toda paixão e liberdade, falsa. A liberdade é a primeira a cair: o prazer depende de um objeto. Prisão. A paixão nunca cai, continua fazendo presença. Assim como a dor de cabeça, quando anuncia o retorno do supereu, puto da vida. E ele vem armado, gritando e falando um monte de merda. Pagando em dobro no quesito sadismo. Ele é o cara nisso, palmas pra ele.
O estômago também dói. A boca seca e o bafo de cachaça vão demorar pra ir embora. A urina não, clama por descarga. Os flashes começam a aparecer. Risos, abraços, amigos, amassos e música. Planos, conquistas, derrotas e vitórias. Algumas lágrimas, mas em single-shot. Aprendi a ouvir pessoas em mesa de bar. Vi transformações riquíssimas, indignas de estudo. Overdose de vivências, boas e ruins. O superherói da consciência clama por aula e responsabilidade. Levanto. Mijo. Tropeço. Vomito. Tomo banho. Como. Bebo. Me arrumo. Entro no carro. Vou pra aula. Volto pra casa e acordo. Quase não acordei. Eu odeio esse cara.
"Cadê meu celular?", pergunta meu arqui-rival. "Não sei", respondo fingindo que não me interessa. O cú fecha. Será que deixei no bar? Perdi na volta pra casa? Aliás, como foi que eu voltei pra casa? Essa é a pior de todas. Os flashes não dão as caras. Estou só e fudido. De novo.
O problema em forçar a memória é que muita merda que a gente gosta de esquecer retorna, fudendo tudo de novo. Sádico, sempre. Deve tá achando graça agora. Lembrei das conversas de ontem, das promessas não cumpridas. A dieta falhou. Beber ao invés de comer besteira é a mesma merda, idiota. Lembrei do quão afrodisíaco o álcool é. A vontade de se comer é tensa... O que será que ela tá fazendo agora?
"Teu celular tá com fulano!", riu ciclano. Vive rindo. Filho da puta. Alívio. O cú abre. O dia será regado por coca-cola e pipoca. Bem infantil, típico de mim. Clichê.
Agora resta lidar com as conseqüências dos atos. Não existe verdade ou mentira, só as conseqüências das cagadas que a gente faz. A vida pede passagem. O flerte com a morte é, em si, fatal. O prazer do poder. O poder do prazer. Em minhas mãos. Fígado, urina e cabeça.
O prazer em quase morrer é saber que existe vida. É saber que existe. Um dia eu acordo, ainda sonho.
Um comentário:
Sabe qual é o papo?
A gente quer mandar o superego tomar no cú [principalmente] quando não se tá bem.
Foda!
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