quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Chorrir;

Me é difícil pensar em algo tão prazeroso quanto botar uma mochila nas costas e ir embora. Encontrar amigos. Amigos novos, velhos amigos. Conviver com estes, amá-los! Abandonar a floresta de concreto, submersa em chorume e violências. Poluição afetiva que há tempos passa despercebida. O frio no calor fervente do asfalto. Postes e muros pichados. Valas entupidas, cuspindo de volta a merda recebida. Um mundo de fios e cores, gritos e dores. A falta de tesão. As pessoas mortas.

Abandoná-la! Esquecê-la! Estranhá-la! Exercício constante.

Invadir o oposto. Molhar o pé em água salgada. Deixar-se ensurdecer pelo vento que traz a areia que fere o rosto. Tomar banho de chuva e queimar a pele no sol. Ver a impossibilidade de enxergar a grandeza do mar. O vai e vem eterno das ondas com a areia. Estes transam!

Observar, nos poucos corpos presentes, a ausência da roupa. A presença da pele, do toque. Dos sorrisos. Perceber a tristeza do sol em abandonar o dia. O dia que me aqueceu.

A amizade. Abraçar e ser abraçado. Sentir o cheiro de um bom amigo, mesmo que este não cheire bem. Beijar o rosto molhado de água do mar. Ouvir o coração palpitar e a respiração pesar. A voz embargar. Eis quem me entorpece, quem me embriaga. Quem me traz os sentimentos à flor da pele. Quem faz-me chorar e sorrir. Chorrir. A convivência. Conviver. Viver com o viver. Viver. Vim ver.

Agora não sei mais como voltar.

Estranhar o caos no retorno. Perceber o que está posto, o que está claro, o que está dado, seu idiota: não pertenço. Isto aqui não é meu. Sinto muito, mas gosto muito da vida para vê-la esvair-se assim. Derretendo em minhas mãos. Escorrendo dos meus olhos.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Medo;

Esse momento que antecede a tomada de iniciativa é angustiante. Sentado aqui, encarando a folha branca digital que clama por algo, deparo-me com a repetição. Minhas atualizações. Meus significados, tatuados no couro. Meus demônios, meus amigos. Meus.

O que retorna? O que regride?

A falta de coragem. O medo de falhar. O medo de crescer, capitão gancho. Neurotizo minhas fezes, meus produtos. Presentes ou perenes? Eis o medo, expulso e retido. O prazer de brincar de criança. A companhia do infantil. O diálogo e os sonhos. A loucura.

Senseless?

O sentido da vida é confuso. A morte é a única incerteza da vida, de vida. A não-vida é um estado constante. Independe de reações químicas, cambada de idiotas. Os seres canibais clamam por mais um pedacinho de carne. Os hipnotizados não acordam. Não escutam. Não reagem. Não.

Reduzir tudo isso à conexões sinápticas é infantil de mais. E muito simples. Banal. É como se, a fim de enxergar a complexidade do universo, usaríamos um microscópio. Olhar para fora. Entrar em contato. Viver, sofrer. Viver, morrer. Deixar sentir e ser sentido. Entregar-se ao erro! Eis a solução. Viver a simples complexidade do amor. O amor. A ciência corre atrás do próprio rabo, como um poodle feliz. Inventa nomes e fórmulas para explicá-lo. Tolinha.

E no outro lado do muro das universidades e dos pedestais de nossos doutores em porra nenhuma, o caos. As relações plastificam-se. O amor é um investimento financeiro. As sinapses representam a possibilidade de compra, de lucro. A ciência justifica o consumo. O silêncio também.

Os loucos, que sábios! Não residem aqui.