Me é difícil pensar em algo tão prazeroso quanto botar uma mochila nas costas e ir embora. Encontrar amigos. Amigos novos, velhos amigos. Conviver com estes, amá-los! Abandonar a floresta de concreto, submersa em chorume e violências. Poluição afetiva que há tempos passa despercebida. O frio no calor fervente do asfalto. Postes e muros pichados. Valas entupidas, cuspindo de volta a merda recebida. Um mundo de fios e cores, gritos e dores. A falta de tesão. As pessoas mortas.
Abandoná-la! Esquecê-la! Estranhá-la! Exercício constante.
Invadir o oposto. Molhar o pé em água salgada. Deixar-se ensurdecer pelo vento que traz a areia que fere o rosto. Tomar banho de chuva e queimar a pele no sol. Ver a impossibilidade de enxergar a grandeza do mar. O vai e vem eterno das ondas com a areia. Estes transam!
Observar, nos poucos corpos presentes, a ausência da roupa. A presença da pele, do toque. Dos sorrisos. Perceber a tristeza do sol em abandonar o dia. O dia que me aqueceu.
A amizade. Abraçar e ser abraçado. Sentir o cheiro de um bom amigo, mesmo que este não cheire bem. Beijar o rosto molhado de água do mar. Ouvir o coração palpitar e a respiração pesar. A voz embargar. Eis quem me entorpece, quem me embriaga. Quem me traz os sentimentos à flor da pele. Quem faz-me chorar e sorrir. Chorrir. A convivência. Conviver. Viver com o viver. Viver. Vim ver.
Agora não sei mais como voltar.
Estranhar o caos no retorno. Perceber o que está posto, o que está claro, o que está dado, seu idiota: não pertenço. Isto aqui não é meu. Sinto muito, mas gosto muito da vida para vê-la esvair-se assim. Derretendo em minhas mãos. Escorrendo dos meus olhos.
3 comentários:
Esse é tu descrevendo ir de são paulo pro rio de janeiro! :]
pode crer... muito firme =]
Ahhhh, gostei... Descreves muito bem =]
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